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domingo, 16 de novembro de 2014

Tarde para a história

Tarde para a história

Fizemos uma roda de conversa naquela mesa velha de madeira com dez cadeiras. Ocupamos sete delas.  A cozinha apertada acomodava-nos igual um sertanejo hospitaleiro, que oferece água e bolacha, ou abstem-se de comer, mas serve as visitas. A toalha  sobre a mesa tinha melancias em sua estampa, umas sobre as outras, parecendo bailar, naquele vermelho-verde sem fim. A mesa já fora palco de conversas de muitos, de variados temas, de controvérsias, em décadas de abuso de suas tábuas, porém ela aceitava todo tipo de prosa que ali se instalava, como que revelando gostar de dar base aos cotovelos apoiados para melhor falar.

Dessa vez, o ritmo da conversa enveredou por piadas que, de inocentes, sem palavrão ou sexismo, algumas vezes, ou muitas vezes, ficaram sem o eco das gargalhadas. Entretanto, como quem queria terminar um trabalho herculano, desbravamos a tarde em histórias que parafraseavam nossas vidas e pensamentos, e quem chegava, ou quem estava de passagem, arriscava perder uns minutos de sua viagem para entreouvir lampejos de humoristas que piscavam naquela cozinha.

Piscar mesmo, nós não queríamos. E logo nós nos apressávamos a encaminhar outra história e outra história. Foram tantas falas, tantos risos, tantas falhas. E uma piada atrás da outra, numa simetria que parecia ensaiada para não cortar um fim de uma história, porém emendada para poder emendar as falas, foi-se um contador após outro, alternando-nos por vezes, ficando um sem participar de certa rodada, e conduzimos aquela apresentação como manda o figurino.

Saíram casos de Cambonge, o qual descobri se tratar de Luís de Camões. Bocage foi citado como um safadinho que só pensava naquilo. Saíram histórias de seu Lunga, de mulheres, de quengas e de freiras, de meninos e papagaios. Saíram algumas coisas publicáveis, outras nem tanto. Saíram nossas mentes a viajar, nossos rostos a sorrir, nossas vidas saíram melhores. Aquele ambiente não saiu do lugar, mas ficou parecendo de outro mundo.

E saímos felizes. Alguns de nós ainda tinham pano pra manga. Deixa pra outro dia. É melhor guardar um pouquinho de prosa para ajardinar outra tarde, outro dia, outra mesa, outras melancias.



Prof. Luís Eduardo

O valor do riso

O valor do riso

E hoje uma criança me sorriu. E outra criança perto também sorriu. E nós três sorrimos juntos. E foi aquela “risadagem”. E o tempo de ser menino veio à janela. E o cheiro de meninice, de pés e mãos grudentas, pretas. De cabelo assanhado, fala ofegante. Suor por todas as curvas do corpo… Mas uma sensação de dever infantil cumprido que não pede descrição. Registrá-la aqui, com meras palavras seria desmerecedor e precisa ficar na fração criadora da mente de quem me acompanha.

Eu fiquei imaginando como é bom ser criança e como é importante preservar esta fase da vida de todas as maneiras que podemos e com todas as leis, mesmo as exageradas com mi-mi-mi, para que essas criaturas de nenhuma responsabilidade possam perambular pelas ruas, praças, igrejas, terrenos, subidas e ladeiras. Como se aquela bicicleta fora um ônibus espacial rumo à lua. Porque eles pedalam como quem quer chegar à lua em poucos minutos!

Ah, se o mundo deles fosse o meu!

Não posso dar-me o desfrute de correr e suar. A esta altura, não fica bem para “alguém da minha idade”. E eu ainda estou aprendendo como é ser alguém da minha idade. Confesso que às vezes meto os pés pelas mãos. E não meto as mãos pelos pés em razão de estar providenciando a inclusão dessa nova expressão nos dicionários renomados. Tão logo consiga, meterei-as. E que se aguentem os meus pés.

Perdoe-me essas descabidas conversas. Tanto é papo para encher crônica quanto filosofias de escritor iniciante.

Na verdade, devo confessar, trata-se tão-somente de inveja de gente cansada e velha, que sente prazer na felicidade inocente dos outros e tem vergonha de atirar-se à brincadeira e ao riso, como quem não tem hora nem patrão. É inveja pura da felicidade alheia. É porque não há felicidade mais linda
Sorriso de menino revela-se coisa divina. Hoje foi uma bicicleta a autora de tal grande proeza, que parece abalar o firmamento do universo: o menino sorriu, esperou o companheiro montar seu alazão de rodas e catraca, e saíram os dois como Dons Quixotes, a querer rixa com moinhos imaginários fincados nas casas dos vizinhos, a cutucar os dragões que se fantasiavam de sobrados de dois andares.

E os dois… E aquelas bicicletas...
É assim que a humanidade despede-se de suas agruras, afasta-se de suas preocupações, esquece-se por um tempo suas ansiedades, emaranha-se por instantes na teia do prazer, e cumpre, nem que seja por pouco tempo (até que outro dia amanheça), o mandamento do criador, que não está no decálogo por um lapso de comunicação entre divino e humano:

SÊ FELIZ ENQUANTO PODES.

Prof. Luís Eduardo

sábado, 8 de novembro de 2014

Dizeres do querer

Dizeres do querer

Quantas coisas ditas
Aflitas horas de amargor
No peito a dilacerar

Quanta repartida dor
magoou a paixão infinita
Mar de amor no amar

Dizeres de horas amadas
marcadas pela paixão
Que um dia era total

Dava à luz a visão
Comunhão abraçada
Sem querer nunca o final

Mas também estrela morre
Ocorre o fenômeno mortal
Afinal a flor apenas murcha
e puxa ao descanso eternal

Amor saudoso

Na esfera da treva, a noite a acompanhar.
Na aurora do dia, lua a me abandonar.
O asfalto nos corações o que há.
Não vá!

Desejo se mistura a lucidez.
Vontades que eu tive uma vez.
Faltou coragem, covarda tez.
Quem fez?

No assombro da noite silêncio rei.
Na clareza diária emudecerei.
Para a luz nenhum piu talvez.
Que lei!

Quem fez tal lei - malvada crua?
O que nos fez esquecer a festa nua?
Quem separou minha boca da tua?
Seio sua.


Saudade

cinco verbos de cada dia

x.x.x.x.x.x.x.xx.x.x.x.x.x.x.xx.x.x.x.x.x.x.xx.x.x.x.x.x.x.x

cinco verbos de cada dia

nascer, crescer, sofrer, lutar, morrer…
entender, um de cada viveria
cinco passos, cinco dias
nessa tarde, sol a escurecer
ventania

cinco passos na caminhada sadia
cinco vezes naturalmente caminha
cinco vezes a espada  da vida afia
cinco pontas perfura a ousadia

tantas doídas crianças nasciam
quantas vidas outrora sumiam!

ficam velhos os garotos de outro dia
ficam roxos os lábios que beijariam

ficam ocos os corações que abraçariam

cinco ciclos quem não desejaria
cinco séculos talvez quimera fria
cinco luas de amor derrama e fia

tantas luas de paixões criariam
tantos loucos lençóis de dia
muito poucos na real soberania
quatro cantos de amor nascia

quimeras, desejos, utopia
banham mares, oceanos cercania
o querer, o sonho, a fantasia

nesse mar a noite vira dia
no coração o açoite, a tirania
da paixão, a profunda companhia

nascer, crescer, sofrer, lutar, morrer
cinco voltas, poucas alegrias
cinco passos, cinco vezes,
cinco pontas, cinco gravidezes
muitas dores, algumas agonias

Já deu!

Se fosse a vida mais fácil a todo dia
Fosse o humano máquina bem terminadinha
Fosse a verve da palavra toda minha

Ah! Fosse um juazeiro o pau-brasil
Uma macambira madeira de lei, luzidio
Fosse a preta jurema meu leito macio

Se pudesse voltar à cachoeira quase seca
Fizesse meu rio dar água como uma teta
Fosse felicidade aquele riso de gente esqueleta

Quando o fim chegar para quem não o quis
Quero reviver como quem sempre diz
Oh! Lugar pra gente ser feliz

Mas o destino quem escolhe não sou eu
Quase a  maioria das vidas desfaleceu
E o povo hoje já diz: Já deu!

Só amor

só o amor

só ele
só ele que me faz sentir melhor
sentir em mim o sol maior
e me faz desabrochar

quando insisto em ser menor
ele lembra-me que não estou só
alguém está pra me ajudar

o amor me reconstrói
destrói em mim o que é penar
cria em mim o recomeçar

que me lembra não estou só
que me faz ser bem maior
isto é o ressuscitar

sorrir é..

Sorrir é abrir em si e no outro
uma janela para apreciar a felicidade.

Para quê?


Para que fizeste os dentes, ó Deus?
Afiaste a fome de quem não mereceu.
Fomentaste a ânsia de alguém como eu.

Para quem fizeste a língua, ó Criador?
Alinhaste a língua de quem diz saber
Amolaste os dentes de quem quer morder

Para que nos fizeste racionais, ó Eterno?
Apressaste o fim de quem acha que pode
Findaste a esperança de quem acha que é nobre

Para que a Natureza nos coroou acima na vida?
Por que o destino nos destinou a governar?
Parece que pereceremos antes de começar,
morrer  antes da Terra Prometida

Sorrir é viajar

Sorrir é como viajar
E viajando a gente sorri mais
Das coisas que ficaram pra trás

Sorriso é como flor
é invenção divina
é o charme da menina

Ela, quando sorri,
rende o mundo
num riso profundo
que não deixa-me partir

Eu, quando a vejo,
lembro-me dos beijos
que não chegaram a mim

E o mais gostoso é sorrir
porque me completo rindo
e o planeta é mais lindo
quando uma criança ri

sorriso é o que me deram de graça

Sorriso é o que me deram sem cobrar
pra eu poder engraçar
a qualquer um que mereça
porque não se quer que acabe
a felicidade.

Prof. Luís Eduardo

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

se eu chegar ao Purgatório


Se eu chegar ao Purgatório ou a algum outro lugar espiritual desse naipe de julgamento das almas, é possível deparar-me com a verdade de que fui rude, grosseiro, austero, deselegante, áspero... Talvez até cheguem a duvidar se fui justo. Pelo menos ficarei tranquilo quanto ao item sinceridade. Prof. Luís Eduardo Almeida

domingo, 2 de novembro de 2014

Sua

Foste minha até quando
Fomos felizes até quanto
Ficamos juntos até longe
Fiquei contigo até aqui
Fizeste comigo até tanto

Andamos bailando até canso
Saudamos doendo até câncer
Cansamos roendo até março
Dezembramos vendo até mortos
Cremos revendo até falso

Selamos os lábios que nos corriam
Fechamos as bocas que nos ofendiam
Deixamos pra trás o amor que existia

Prof Luís Eduardo -16/09/14

Viés via esperança

Vida,
via de sonho.
Vida nova,
novo caminho,
todos juntinhos
sob a manta.

E toda a humanidade se encanta.

Chegada,
via-se, anunciada.
Aguardada,
como nunca desenhada,
sorriso, riso, gargalhada.

Por enquanto,
só um olhar apertado
enquanto pais,
encantados, se apertam.

E as estrelas,
mais, bem mais estreladas,
anunciam sua chegada.

E a natureza,
mais quente, mais cantante,
parece dizer abobalhada:
Bem vinda, vida renovada.

Luís Eduardo,  13/07/14

Vida simplesmente

Eu queria tanto estar sozinho
Fosse apenas o escuro por companhia
Fosse desejo uma estranha brisa fria
Fosse varrer meu lembrar pelo caminho

Fosse a noite mais morosa que uma vida
Fosse o silêncio mais fatal que o ciclone
Fosse sonho mais veloz que a partida
Fosse o herói negado a todo homem

Não fosse hoje eu estaria amanhã
Fosse amanhã esqueceria torto presente
Não visse a morte como se doce irmã
Seria a vida mais feliz e simplesmente

Prof. Luís 13/08/2014.        1h28

Vida e dor

Nem a chata vida me negou
O conforto de viver sina marcada

Ou a ladra morte me furtou
O desejo de morrer morte matada

Mais das sinas matadas
Demais de mortes marcadas
Fui sempre vivendo em disparada

Nenhuma dor foi doída plenamente
A ponto de ser sentida sem parada

Porque faz jus ao pequeno berço-céu
Aquele que, de vítima, passa a réu
No inquérito da vida transtornada

Prof. Luís 13/08/2014.    1h50

Toda vida vivida

Toda vida merece um obrigado
Embora alguns nem tão sinceros
Todo agradecimento que espero
Parece ter saído forçado

Todo nosso encantamento
Pelos mais sinceros cuidados
Parecem folhas jogadas ao vento
E não deviam ter sido jogadas

Arrependimento parece pancada
No mais profundo tecido neural
Pior é a morte após vida fadada
Ao mais enfadonho final

"Toda vida bem vivida converge para finais dilemáticos e desafiantes.
O fim dos outros é sem graça."

Luís Eduardo  26/08/14

Se cada amanhecer

Se cada amanhecer fosse um novo recomeçar o mundo estaria lotado de gente que pensa, e o bem pensar seria do tamanho do Universo.

Prof Luís Eduardo -16/09/14

Se amo?

Oceano de amor, mar de amar.

Você amo com furor, amar é mar.

Você,  eu,  a marulhar.
Ah, mar! Se me visses a gostar.
Amarias cada onda.
Onda, crescerias a te agigantar.
Continente, serias feliz como mar.

Se amo?
Você amo, por anos.
Anos-luz, em cada sol.

Cada dia, cada canto de passarinho.
Cada veia, cada encanto em seus cantinhos.
Toda linda, nada feia,
toda flor em cada cheirinho.

Não lhe busco e já lhe encontro
em meus caminhos.

Tudo é vasto e em nada caibo
se for sozinho.

Prof. Luís 12/08/2014    23h56

Queria saber em qual dos 6 dias

Queria saber em qual dos seis dias de Criação estabeleceu-se tantos afazeres para as tão poucas horas da vida.

Prof Luís Eduardo -16/09/14

Quem é

Quem reina na vida oco viver
É repensar se o trono não é vão
Lhe é comum o aprumo se perder
Mergulhar na profunda ingratidão

Antes fosse o seu vívido malquerer
Dispersado em meio à multidão
Pois nascido para tanto padecer
Melhor fora lhe arrancar o coração

Pois da vida ingrata morte é sofrer
Cada instante sufocada a intenção
De um mal que lhe angustia a padecer
Morrer pequeno desejando a amplidão

Quando

Quando vierem muitos amanhãs
Quando se forem os Era uma vez
Mesmo a realizar promessas vãs
Quando eu já não tiver o que dizer
Quando houver perdão vezes sete
Mesmo que a curva da vida se feche
Mesmo se eu me perder
Quando nunca mais amanhecer
Quanto valerá o alvorecer
E quanto mais gozo da solidão
Quanto mais insisto na contramão
É quando me perco em abstrações
Quantos dias se tornaram duras lições
Quando choros frustraram as emoções
Quem duvida que a vida é sentir
Quando a boca não mais sorrir
Quantos cegos quererão ver
Quando a liberdade se prender
O espelho humano se verá fugaz

Prof Luís Eduardo -16/09/14

Passantes pensantes pessoas
Pessoas passantes a pensar
Pessoas possantes pela proa
Peregrinos pobres a penar

Pequeninos pomposos pivetes
Pivetando pernadas pela praça
Pererês pernetas pracetes
Poetando prosa puro passa

Purificando passadas
Pensar passarinho
Passará pingo
Pluvial purificada

Pensando em passos de papai, penados.
Prof. Luís 26-08-2014

Pés trocados

Meu pé tocando o dele
Nossa noite parceira
Um sábado qualquer
Qualquer coisa pra fazer
E não sair do lugar
Muita coisa pra dizer
E nada produzir

Era eu querendo ser pai
Era ele querendo se adultar
Meninices de dois seres
Querendo se conhecer

E assim a noite foi
E assim eu me achei...
       
              E ele só dormiu

Pobre rei

Pobre rei que acelera o motim
Despejando amargor à sua roda.
Espalha azedo fluido e sai de si
A lâmina cuja vida já lhe poda

À tolice a fidelidade de escudeiro,
Fanfarrice orgulhosa lhe acoberta,
Da falácia é sinônimo no espelho,
Do engano encontra porta aberta

Mal sabe o que adiante lhe aguarda,
Espreitando da ação suas respostas,
Espera o prêmio de uma vida errada:
A triste e mais completa das derrotas

Prof. Luís 13/08/2014       0h53

Para sempre

sempre que pudermos,
sempre que a vida abrir uma brecha, sempre que o coração calar as bocas
sempre que se ascenderem as almas

sempre que nosso lado humano
tiver vontade de aparecer
sempre que os sentidos
chegarem a falhar

sempre que o tato
deixar de se exercitar
sempre que o cheiro conhecido
tornar-se estranho

sempre que o nosso olhar
não quiser mais ver-nos

sempre que nossas mãos
se recusarem a apertar

então,  deve ter acontecido o inferno.

Prof Luís Eduardo - 20/09/14

O que escrevo

O que escrevo pouco me move, na intenção de mexer mesmo é com os outros.

Luís Eduardo

Não me vejo

Não me vejo mais
sem você
Sem você
Eu nem me vejo direito
Sem ver direito
Não aprecio sua beleza
Sem sua beleza
O mundo fica mais triste
Com o mundo mais triste
Ficamos menos gente
Com a gente menos gente
Não sentimos um ao outro
Sem sentirmos um ao outro
Nem sentimos o fim do mundo
O fim do mundo pra mim é você
Sem mim

Não há

Não   - Não há
Há quem diga ser a vida amargo fel
Há quem pensa morrer logo esperançoso
Há um meio de estar certo tortuoso
É de querer ver bem usando véu

Não há tempo para quem assoberbado
Não há magoa para quem no perdão
Não há água para lavar ódio guardado
Há dois tempos de amor num coração

Há limites que devem ser respeitados
Há uma linha fina entre nós e a ambição
Há dois jeitos de perder o ser amado
Não há braço que abrace a imensidão

Prof. Luís 13/08/2014.    1h39

Morrer

Oh, morte!
Não te busco e só te vejo a me sorrir
E os sorrisos de se ver já não vi

Oh, vida!
Não te sinto e só percebo-me cair
E os sons de outrora sem tinir

Oh, riso!
Onde estás que não respondes meu luzir
E as tristezas que não quero vêm a mim?

Oh, tristeza!
Donde vens que não te quero por aqui?
E tua bagagem despejas ao surgir

Oh, medo!
Dá-me estanque quando peço-te seguir
E arrancas de meu peito o insistir

E eu insisto...
Quando só resta-me partir.

Prof. Luís 12/08/2014. 0h14

Jogar conversa fora

Jogar conversa fora
Jogar pedrinhas na água
Jogar comida aos pombos
Jogar bola na rua
Jogar barro no amigo
Jogar a rosa roubada pra moça flor

Jogadas da pureza da vida
na infância feliz de muitos

...Jogada sem graça a de hoje

Jogar palavrão no amigo da rua
Jogar insulto no colega da classe
Jogar pedra na vidraça alheia
Jogar crítica no diferente...

Jogaram a vida fora sem me avisar

Prof Luís Eduardo -20/09/14

Gritos

Tantos gritam em nome da vida boa
E eu gritando tudo que errôneo soa
Quero ao surdo infinito dirigir
Como se fosse minha deixa ao partir
Minha vontade de ter sido outra pessoa

As mágoas em meu peito acorrentadas
A concordar que minha vida quase nada
Era mais útil que ao longe fosse cumprir
A promessa de viver como se o fim
Fosse a flor do jardim mais desejada

Aos que ficam deixo gélidas lembranças
De alguém que admitiu que a vida cansa
Hoje a ilusão de ter vivido sem ter sorte
É corrigida antes do fim que se alcança
Melhor agora que depois da fria morte

Prod. Luís 13/08/2014.   1h16

G231522

Poste da rua sem acender
Vida de mim sem ascender
A frustração das estradas do viver

E a rua da gente sem nos favorecer
E o dia das gentes sem alvorecer

É comida que falta pra gente comer
É gente que  enfarta pra se dizer
É o dito-não-dito de cada conviver
Convivendo enxergo que devo fazer

Penando me levo a bem proceder
Procedendo encerro o teu malquerer
Querendo realizo o meu não-querer
Não querendo já faço o que devo fazer

Assim se procede meu padecer

Prof Luís Eduardo,  24/10/2014

Fera mulher

É fera aquela mulher frágil
De quem pouca força se espera
Mas ela age e se supera.
E é fera,  fera mulher!
Mulher, mulher!
Cuja montanha de força interior
Faz calor para os que estão perto
E é completo seu amor pela vida
E ela,  dividida entre parar e seguir,
Decide subir até onde ninguém alcança
E nunca cansa, porque a vida é melhor
Quem, no choro, surpreende ao sorrir
Eu espero imprimir na minha pisada
Essa pegada tão certeira, tão forte
Pra mudar minha sorte um dia
Mas descubro fantasia querer-me assim
Pois não é possível
UM CARIMBO DE MULHER E MÃE
EM MIM

Em homenagem ao seu aniversário,  pelo que vive vive,  pela força que tens,  pelo exemplo que és.
FORÇA SEMPRE

Prof. Luís Eduardo. 27/08/2014, 8h.

Esperei bastante por

Esperei bastante por dias ensolarados que revelavam chuvas frias.

Luís Eduardo

Doutor

Fila
De clínica
Espera
Com cautela
Calada
Pela chamada
Doente
De repente
Aviso
De improviso
Ouçam bem:
Não vem!

DOAR

E aquela mocinha, magrinha e belinha
foi ficando mulher, foi fiando-se a vida,
descobrir o que quer, toda amadurecida
por uma vida chamada de minha.

E aquela moça melhor, poça de chama,
árvore que enrama, cresce e dá sombra
igualmente, como que a todos ama,
dentre seus galhos o fruto-vida tomba

Ser o sentido de tudo que existe
é o milagre que a natureza declara:
dar a vida, e permanecer em riste
doando sua força à próxima joia rara

Prof. Luís Eduardo 01-07-2014.

CORAÇÃO TEMPESTUOSO

Abro as portas dos meus dias,
escancaro as janelas de minhas tardes,
contemplo a nuvens dos meus céus.

Chuva. Vento forte. Temporais.

Apronto-me às tempestades
que se anunciam
devido às minhas estranhas naturezas.

Tudo o mais é bom tempo,
apenas nos tempos dos outros.

Espero, anseio, ardo
por melhorias que já deviam ter chegado.

Sinto murchar o pasto
das padarias do meu peito.

Agora é rezar por estações
que fertilizem o terreno duro
dos meus sentimentos
castigados pelo mau tempo.

Prof Luís Eduardo,  16/05/14

CHORO

Já chorei tanta pétala nessa estrada
Já visei tanto pó na pisada
E tão pesada me enfiei na madrugada
Furta sono, furta cor na treva chegada

E sereno me segui nesse sono
Enturvado em que sempre mergulhamos
Primaveras não vi, só outonos
Invernos do inferno que somos

Impávido sendo só nessa ilha
De viver batalhando uma guerrilha
Que se anuncia a quem cedo se atira
A ser mais do que ser numa trilha

E assim apesar de só crer
Realiza mais que quem quis só ser
Mais fez quem além quis fazer
Enfrentou o irrisório do ter

Pois a vida é maior que o que se vê
É andar acima do infortúnio querer
Quem morreu antes de perecer
Seria melhor não ter tido o nascer

Prof. Luís Eduardo -15/09/14

CAMA

É o Olimpo de quem dorme
É a comida pra quem fome
É fomento pra quem drama
É leito pra quem se ama
É desespero pra quem traído
É esperar pra quem está vindo
É volta pra quem deixei
É vinda pra quem perdoei

É trama pra quem arma
É plano pra quem maquina
É vida pra quem alma
É realizar pra quem imagina
É cama
É amor
É sina

Prof Luís Eduardo 16/09/14

Adimiracê

Oh! Vida bela, bela vida.
Verde vira, vitaflerte,
Vida que flerta, companheira.
Vida videira de frutos belos,
Singela andante com os singelos.

Vida, endivido-me contigo,
Devo-te do velho ao novo.
Fico bobo em teu abrigo,
Sigo, de esperança todo.
Dou-me em singular cativo.

A alva de cada amanhecer
Renova o velho meu interior,
Aviva a vida que quer morrer,
Acende a chama que nao apagou,
Apaga as cinzas de minha dor.

Assim eu sigo como quem nasceu,
Aviso ao mundo que aqui estou eu,
Ao inverno frio dou eterno adeus,
Agarro a primavera que me comoveu,
Porque marcado, mas o viver é meu.

Prof. Luís,  junho de 14.

A vida tinha obrigação

A vida tinha a obrigação legal, na minha Carta Magna, de ter-me dados mais direitos e menos deveres.

Prof Luís Eduardo -16/09/14

A natureza me devia

Devia a vida ser melhor
Devia o melhor ser vivido
Devia o ontem ficar só
Devia a solidão ter partido

Devia o partir ser menos dorido
Devia a dor ser mais repartida
Pra gente chorar na despedida
De quem jovem não devia ter ido

Deveria o amarelo ser só do sol
A natureza devia e não me pagou
Um amanhcer mais rouxinol

E pra quem pensa que chegou a manhã
Saiba do verdadeiro entardecer
A sombra que fica da figura
Do homem fraco a padecer

Prof. Luís 26-08-2014
"Devia a vida a mim mais tempo com quem amo"

A escada da vida

Entardecer é como o apagar na festejada
Escurecendo a estrada do caminheiro
Brilha o primeiro ponto de luz da vida a escada

E o homem vai vivendo cada novo luzeiro
Temendo suas escolha mal logradas
E a subida é menos dura da vida a escada

E o jovem fica moço nas quebradas
E a curva do tempo vai se tornando árdua
A vontade de ser velho mostra-se alterada

Cada passo mostra que tem sua pesada
Cada perna vai cansando com as pegadas
Subida bem mais dura a cada escada

Quem queria subir agora desce a passada
O que queria agora não quer mais,
É vontade que virou velha alternada

E o velho sente saudade da meninada
Vai sofrendo as dores de costas dobradas
É dor de vida depois de caminhada

Prof Luís Eduardo,  07/08/14

Sorriso

"Sorriso é algo que, sendo inteira e intimamente nosso, não é verdadeiramente nosso, pois damos em totalidade ao outro, e mal vimos ."

L. EDUARDO.   24-08-2014